terça-feira, 15 de setembro de 2015

Meio sol amarelo

Em uma edição da Companhia das Letras emprestada da biblioteca, eu li Meio sol amarelo. Este livro da Chimamanda Ngozi Adichie foi o segundo que li, antes dele tinha lido Americanah. Eu me encantei por Americanah, que é uma história bonita e sofrida narrada por Ifemelu, uma nigeriana que se muda para os Estados Unidos. Mas Meio sol amarelo me conquistou ainda mais.

O livro conta a história conectada de alguns personagens vivendo na Nigéria do início dos anos 1960 e no Biafra, palco da Guerra de Biafra, no final dos anos 1960. A personagem principal é Olanna, uma mulher da classe alta nigeriana muito diferente de sua família. Seus pais são ricos e ela pôde estudar e se formar no exterior e, quando termina o curso, resolve se mudar para Nsukka, a cidade do namorado Odenigbo. Olanna tem uma irmã gêmea, Kainene, de quem costumava ser muito próxima, mas ao longo da vida as duas foram se afastando até praticamente não se falarem mais. Olanna passa a dar aulas e a conviver com os entusiasmados amigos intelectuais de Odenigbo que frequentam a sua casa.

Odenigbo é professor da Universidade em Nsukka e promove encontros animados regados a bebidas e boa comida em que os professores intelectuais negros (Odenigbo, tensionando valorizar os professores negros, prefere não convidar os brancos) da Universidade discutem, principalmente, os rumos políticos da Nigéria.

A boa comida dos encontros é feita por Ugwu, um garoto de aldeia que é levado por sua tia para trabalhar na casa de Odenigbo. Ele é um rapaz simples que aprende rapidamente a se adaptar à nova rotina, aos "luxos" da casa nova (como água encanada) e ao estilo de vida de Odenigbo, a quem Ugwu se refere como O Patrão. Ugwu adora a nova vida e se sente muito orgulhoso de si mesmo com os aprendizados que faz, tanto com relação aos trabalhos na casa como com os estudos que Odenigbo lhe proporciona.

Kainene, como os seus pais, é muito diferente de Olanna. Ela se dedica às empresas da família e é uma típica mulher de negócios. Muito reservada e, por vezes, fria e arredia, Kainene conquista o amor de Richard, um inglês que se muda para a Nigéria com a pretensão de se tornar escritor.

E estes personagens vivem o drama da Guerra de Biafra, uma frustrada tentativa de criação da República da Biafra passada no final dos anos 1960, que durou quase três anos e dizimou, principalmente, os autoproclamados biafrenses. Vivendo os horrores da guerra, estes personagens precisam se mudar diversas vezes fugindo do avanço dos soldados nigerianos que foram, pouco a pouco, tomando toda a região de Biafra (sudeste da Nigéria). Em meio à sua fuga pela sobrevivência estes personagens se esforçam para oferecer seu trabalho às pessoas. Apesar de ter sido uma república autoproclamada não reconhecida pela Nigéria e pela maioria dos países do mundo (Portugal e França foram os principais aliados de Biafra), a narrativa mostra a esperança dos biafrenses que, apesar de toda a violência que viviam, acreditavam muito em sua república e na vitória contra a Nigéria.

Olanna, Odenigbo, Ugwu e Baby, a filha do casal, se veem obrigados a abandonar a sua casa e diversas outras casas que passam a ter ao longo da narrativa, tornando-se refugiados cada vez mais pobres. E até Kainene e Richard, que, por algum tempo ao longo da história, conseguem viver com uma condição melhor acabam sofrendo muito com a fome e a pobreza.

Apesar dos personagens fictícios, o livro de Chimamanda baseia-se em uma história real que foi narrada a ela por seus parentes mais velhos que sobreviveram a esta guerra. É um livro muito bom, com personagens muito cativantes por quem eu me apaixonei sinceramente. Olanna é uma personagem que vai amadurecendo como pessoa e como mulher ao longo da história, ela vai perdendo a sua fragilidade e insegurança e é obrigada, pela luta por sua sobrevivência e de sua família a se tornar uma mulher muito forte, determinada e mais confiante. Ugwu foi, por quase todo o livro outro personagem muito querido, um rapaz de origem muito pobre e que vai aprendendo a aprender e a sonhar cada vez mais. Digo que ele foi muito querido por quase todo o livro porque eu deixei de gostar dele por uma coisa muito ruim que ele faz e que, apesar de se arrepender muito - e por muito tempo depois - para mim foi imperdoável.

Enfim, eu recomendo fortemente este livro que foi para mim uma leitura muito agradável até certa parte e depois bastante pesada, mas muito boa o tempo todo. Chimamanda tem uma escrita muito fluida e eu li o livro bem rápido, apesar de ser o calhamaço que é (502 páginas). Um soco no estômago que me fez chorar muito, mas que acho muito válida para relembrar uma realidade que, apesar de passada há quarenta e cinco anos, é reflexo de um mundo ganancioso que, principalmente por causa do petróleo existente na região do Biafra, ajudou a nutrir uma guerra que dizimou milhões de pessoas. Vale lembrar que a Guerra do Biafra chocou as pessoas ao redor de todo o mundo por terem sido divulgadas diversas imagens de pessoas morrendo, principalmente de fome, devido ao embargo imposto.

Bandeira do Biafra, com o meio sol amarelo que nomeia o livro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário